13 de nov. de 2008

Dois perdidos numa noite suja

Gosto muito desse filme. O pano de fundo da história de “Dois Perdidos” é bem conhecido: dois imigrantes brasileiros ralando pra 'fazer a América' e passando os maiores apertos e dificuldades. Até aí, nada demais. O legal desse filme é o que rola entre eles, as conversas quando estão em casa - na verdade, uma espécie de galpão, aqueles estereótipos de fábrica abandonada, com tubulação aparente e tudo mais, bem caótico, como é toda a relação desses dois, tentando sobreviver em Nova York, tentando falar, tentando amar.

Vou explica melhor: o filme é uma adaptação do José Jofily (o diretor do Pixote) para a peça do Plínio Marcos, de 1966. O autor ficou conhecido por seu teatro marginal - Navalha na Carne, inicialmente censurada pela ditadura, gerou uma polêmica gigante. Para adaptar a peça pros dias de hoje, o diretor trouxe os dois pros EUA, acentou algumas tons de marginalidade, acrescentou elementos como a sexualidade de Paco, misógena e sensual – no original, era um homem, e conseguiu fazer tudo isso com uma delicadeza fantástica, bem diferente do Pixote, que era mais agressivo, direto.

Aí temos o Roberto Bontempo interpretando com perfeição o Tonho, um mineiro tímido, inocente, sincero, trabalhador, meio com cara de bobo, e a Débora Falabella interpretando Paco, inteligente, arrojada, misteriosa, violenta. Só um drops do encontro deles: o Paco é uma menina, que se passa por menino, e sobrevive fazendo sexo oral em velhos americanos vidrados em garotinhos. Um deles descobre, em um banheiro público, que trata-se de uma menina e tenta agredir Paco. Tonho limpava o banheiro e quando viu a briga, nocauteou o gringo.

A partir daí, começa uma relação conturbada, em que os traços psicológicos dos dois se misturam às dificuldades de imigrante, de duro, fodido, e eles passam a se machucar mutuamente, ao mesmo tempo em que desenvolvem um amor enorme. E inviável. Tudo ali é inviável.

Pra fechar a conta, uma belíssima canção, feita para o filme, pelo Arnaldo Antunes. Maravilhoso.

2-perdidos-numa-noite-suja-poster01 Direção: José Joffily
Roteiro: Paulo Halm
Fotografia: Nonato Estrela
Origem/Ano: Brasil - 2002
Duração: 100 minutos
Sinopse: Dois Perdidos Numa Noite Suja narra o encontro explosivo de dois brasileiros que, como tantos outros imigrantes dos anos 90, trocaram a falta de perspectiva do país pela ilusão do sonho americano. Depois de um encontro casual, Tonho convida Paco para dividir um galpão abandonado. Tonho é tímido, humilde, sincero. Paco é misteriosa, arrojada, agressiva. Fora a condição de estrangeiros, aparentemente não têm nada em comum. Ele está cansado de subempregos e quer voltar para o Brasil. Ela quer virar uma pop-star e vender mais discos que a Madonna. Por necessidade, falta de opção e solidão Tonho e Paco passam a viver um cotidiano infernal, fruto de ressentimento, frustrações, violência e uma inusitada história de amor. A convivência forçada desses dois imigrantes à margem da sociedade irá revelar de forma crua e despudorada a falência da esperança de uma vida mais digna. O desespero crescente leva Paco e Tonho a aplicarem golpes cada vez mais arriscados. A diferença de temperamentos e objetivos provoca confrontos cada vez mais violentos com um final tão doloroso quanto inesperado.

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