31 de jul. de 2009

Paris

Não posso negar que tenho uma certa queda por esta cidade. Por consequência, os filmes nela ambientados sempre me atraem. Este, em especial, é uma homenagem à cidade e seus habitantes, um filme sensível e bonito, que usa como base uma história de morte mas que fala, de forma geral, desta cidade tão bela e ambígua, com seus personagens e circunstâncias.

O diretor e roteirista, Cédric Klapisch, é o mesmo de “Albergue Espanhol” e “Bonecas Russas”, filmes que eu gosto bastante, e o elenco é ancorado por Roman Duris (que estava nos dois anteriores) e a bela Juliette Binoche. Trata-se da história de Pierre, um dançarino que descobre ter um problema cardíaco, que só pode ser resolvido com transplante, e o obriga a ficar em repouso, em casa. De sua sacada, ele passa a observar mais atentamente a cidade e seus personagens.

A partir daí, o filme se desdobra em outras histórias paralelas, que eventualmente se cruzam. Nelas, amor entre um professor mais velho e sua aluna, imigrantes, feirantes, trabalhadores, enfim. Uma gama bem rica de personagens e seu ambiente cotidiano. Paris bela e ao mesmo tempo sem o glamour que normalmente lhe é imputado – o que, de maneira alguma, a torna menos fantástica.

Não há na obra nenhum grande lampejo de genialidade, mas há elementos que eu particularmente aprecio num filme e que o tornam, por isso mesmo, raro. Beleza (fotografia e trilha, que neste filme são muito boas), ritmo, emoção, pessoas e suas relações com sentimentos sinceros, sejam eles tortos ou não. O que sente e como age a irmã que descobre que seu irmão pode morrer - briga com ele por não ter lavado a louça ou não? O que sente a menina que se envolve com o professor mais velho, mas não o ama, e como ele se sente ao vê-la com um rapaz de sua idade, mesmo sabendo que é o caminho mais natural das coisas? E o ex-marido que não suporta a ex-mulher por seu comportamento, e sofre de forma lancinante com sua morte. E o migrante que vive em Camarões e que ‘conhece’ a vida em Paris pelos postais que o irmão lhe envia, e parte daí a construção de seus sonhos. Essas histórias me encantam.

E – sei que me repito, perdoem – ver Paris, com ou sem glamour, é sempre muito bom.

paris

Título original: Paris
Origem/Ano: França – 2008
Duração: 130 min.
Direção e Roteiro: Cédric Klapisch
Sinopse: Dançarino descobre uma doença no coração que o obrigado a ficar em repouso, até que consiga fazer um transplante. Sua irmã muda-se com os filhos para ajudá-lo. A partir daí, ele passa a observar com atenção a cidade em que vive e seus personagens.

5 de jun. de 2009

Dias de Glória

Gostei bastante deste filme que conta um pouco da história sacana da França com seus ‘colonizados’. Boas atuações, especialmente do cativante Jamel Debbouze, aquele da Amélie Poulan, cenas de ação muito bem feitas – com bastante sangue, pra quem gosta, fazem deste um bom filme de guerra, nos padrões tradicionais do gênero, mas que consegue contar uma outra história, tão marcante quanto.

Para reforçar suas tropas durante a 2. Guerra Mundial, a França convocava habitantes de suas colônias na África, sempre ressaltando que sacrificar a vida pela ‘pátria-mãe’ era um dever e uma honra e, em sobrevivendo, viveriam todos em paz sob o trinômio Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

E assim, milhares desses soldados embarcaram na aventura e enfrentaram, além das balas inimigas, um exército de preconceito e desilusão. A história acompanha de maneira mais próxima a trajetória de quatro argelinos e todas as agruras enfrentadas pelo grupo. Mesmo entre os companheiros de trincheiras, eram tratados como inferiores, tinham possibilidades limitados de ascensão na carreira militar e, na França onde nunca haviam pisado, foram tratados como bastardos indesejáveis, mesmo tento arriscado suas vidas por aquela terra.

Me chamou muita atenção uma das primeiras cenas do filme, quando um desses soldados comunica à mãe que vai atender ao chamado e se alistar no exército francês, e a justa incompreensão dela com a decisão. E mesmo diante do apelo desesperado da mãe, movido por aquela promessa de um futuro melhor, longe da miséria em que o próprio colonizador o deixara anteriormente, ele segue em frente.

Depois da guerra, e com a independência das colônias, o governo francês cortou as pensões aos ex-combatentes não-franceses. Injustiça só reparada em 2006, com o lançamento do filme. Grande história, desconhecida da grande maioria. Vale a pena conhecer, até pra relembrar que, na guerra, todo mundo sempre perde – uns mais que os outros, e neste caso, com o perdão do trocadilho confuso, estes ‘uns’ eram os ‘outros’, os não-franceses, a colônia…

Diasdegloria

Título original: Indigènes
Origem/Ano: França – 2006
Duração: 128 min.
Direção: Rachid Bouchareb
Roteiro: Rachid Bouchareb e Olivier Lorelle
Sinopse: Em 1943, 130 mil soldados originários das colônias francesas na África foram para a Europa lutar na Segunda Guerra e ajudar a libertar uma pátria-mãe na qual nunca antes haviam estado. ''Dias de Glória'' conta a história de quatro desses homens, desde a sua convocação em seus países de origem até o fim da Guerra. Vencedor do prêmio de melhor ator no Festival de Cannes de 2006, numa premiação coletiva dada a cinco atores principais do filme (que interpretam os quatro soldados, além do comandante do batalhão).

26 de mai. de 2009

Herói por acaso

A pedido, vou começar uma pequena série com filmes franceses, todos eles muito legais. E começamos com este “Herói por acaso”, um filme belíssimo, engraçado e emocionante.

O enredo trata do período de ocupação nazista na França, quando a população se dividia entre colaboracionistas ou não. Batignole, a bem da verdade, não era um nem outro, mas não queria saber de confusão. Até que seu genro, crítico de arte e colaboracionista, denuncia uma família de judeus que vive no apartamento acima do deles. Durante a prisão da família, o filho consegue se esconder e, junto com duas primas órfãs da guerra, acaba entrando na vida do salsicheiro Batignole. Incapaz de entregar as crianças aos nazistas, Monsieur Batignole embarca numa jornada insana para tirá-las do país e levá-las em segurança até a Suíça. E neste trajeto pela libertação das crianças, Batignole acaba libertando-se também da vida modorrenta e opressora que levava em casa, com a família.

O interessante é que, com grandes atuações, especialmente das crianças, e a graça inata de Gérard Junot (que também é o diretor) com aquele jeitão de pastel, o filme fica extremamente leve e divertido, apesar do tema ‘duro’. É bem verdade que segue um pouco a linha dos filmes do Roberto Begnini, como “A Vida é Bela”. Mas isso não chega a ser demérito nenhum, pelo contrário.

Vale o registro da bela fotografia do filme, com cenas fantásticas de Paris e do interior da França.

heroi_por_acaso_aff Título Original: Monsieur Batignole / On pouvait pas savoir
Origem/Ano: França/2002
Duração: 100 min
Direção: Gérard Jugnot
Sinopse: Paris, 1942. O país está ocupado pelos nazistas. O senhor Batignole é dono de uma salsicharia e, tendo lutado na primeira guerra, não quer mais saber de nada do que acontece na vida do país. Passivo, suporta as humilhações de sua arrogante esposa e o anti-semitismo do futuro genro, que já mora em sua casa. Quando o genro, colaboracionista e aproveitador, denuncia a família judia que mora no andar de baixo, o senhor Batignole nada faz. Mas a omissão lhe será jogada na cara por Simon, filho da família denunciada, que conseguiu se esconder dos nazistas. Protegê-lo será a chance de o senhor Batignole se redimir.

11 de mai. de 2009

Salvador

Quem gosta de filmes históricos, em especial sobre os períodos de ditadura militar em todo mundo – e eu gosto bastante, sabe que este é um gênero em que os brasileiros se especializaram. Saíram por aqui uma série de títulos bem interessantes, como “Batismo de Sangue”, “Zuzu Angel”, “Quase dois irmãos”, “O que é isso, companheiro?”, “Lamarca”, só pra citar alguns que me lembro de cabeça.

Em “Salvador”, a ditadura da vez é a espanhola, sob o comando do Generalíssimo Franco, e o filme conta a história de um jovem, Salvador, que não aceita as imposições do regime e resolve pegar em armas na luta por seus ideais.

Até aí, sem grandes novidades, o enredo é bem conhecido de todos nós. Militância, assaltos à banco, etc. Confesso que até esse ponto, fiquei um pouco entediado, achei um tanto arrastado.

Até o momento em que ele é preso e condenado à morte por um tribunal militar. A partir daí, acompanhar a agonia do condenado à espera da morte, a luta dos advogados em busca de um perdão, a situação da família, enfim, a trama toda vai nos envolvendo de maneira angustiante.

Só pra explicar melhor: na verdade, o filme começa com a sua prisão e, na captura, ao tentar fugir, rola um tiroteiro, em que Salvador é baleado e um policial é morto. A história passada vai sendo por ele, em conversas com o advogado na cadeia, até o momento da prisão, quando começa a parte angustiante.

Gostei muito de uma série de coisas, como o relacionamento que ele desenvolve com o policial dentro da cadeia – os diálogos entre eles são bem interessantes, a relação dele com o pai, enfim. Mas, repito, o que mais me impressionou foi a capacidade do filme, com a interpretação singela do ator, de nos envolver sentimentalmente. Coisa rara hoje em dia…

Trata-se de uma história real, e a família até hoje pede uma revisão do processo. Mais não conto. Por fim – e sei que isso vai soar completamente batido e anacrônico, mas fazer o que… – acho que sempre vale a pena conheceros melhor como era viver sob um regime ditatorial, só pra valorizarmos nossa pouca liberdade e não corrermos o risco de qualquer retrocesso.

salvador-2006-poster02 Título Original: Salvador
Duração: 134 minutos
Origem-Ano: Inglaterra – Espanha : 2006
Direção: Manuel Huerga
Roteiro: Lluís Arcarazo, baseado em livro de Francesco Escribano
Sinopse: A história real do militante, assaltante de bancos e anarquista Salvador Puig Antich (Daniel Brühl), integrante do grupo Movimiento Ibérico de Liberación, cuja execução em 1974, a última realizada na Espanha com o método do garrote, instalou uma polêmica que ajudou a decretar o fim da ditadura franquista e o retorno da democracia ao país.

Uma amizade sem fronteiras

Uma belíssima história de amizade entre um menino francês e um velho imigrante muçulmano na Paris dos anos 60, onde ambos se amparam mutuamente, trocam experiências e ensinamentos, suprem suas carências e crescem juntos. Basicamente é esse o enredo do filme, com uma grande atuação de Omar Sharif.

O filme tem um ritmo leve, com momentos divertidos e outros comoventes. Trata-se de um menino judeu, Momo, entrando na adolescência e vivendo uma fase de descobertas, criado pelo pai completamente relapso, traumatizado por ter sido abandonado pela ex-esposa. Momo conhece Ibrahim, este imigrante argelino, que tem um pequeno armazém em frente à sua casa – o menino vai lá comprar produtos e, por vezes, roubá-los, deixa para o início da relação entre eles…

Com uma atitude diversa da que o menino está habituado, esta relação cresce e Ibrahim passa a assumir, de certa forma, o papel que caberia ao pai na educação do garoto. Essa relação se solidifica, quando o pai do menino também o abandona e ele passa a viver sozinho, vendendo os objetos domésticos – e gastando a grana com as putas da região.

O grande lance do filme está, primeiro, na maneira em que se desenvolve essa relação de afeto entre os dois e nos pequenos detalhes dessa construção, e, depois, na forma como, apesar das diferenças culturais entre eles, seus ensimanentos, baseados no Corão, são absorvidos de maneira suave, sem maiores choques, pelo adolescente ocidental.

Ibrahim repete suas máximas, filosias e regras, e diz ao menino que é isto que está escrito em seu Corão. E no final a gente entende melhor como essa ligação entre eles supera tão facilmente as distâncias culturais. Só pra dar uma pitadinha de beleza: o nome original do filme, em francês, é “Monsieur Ibrahim et les Fleurs du Coran”. Diz muito mais do que “Uma amizade sem fronteiras”.

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Título Original: Monsieur Ibrahim et les Fleurs du Coran
Duração: 95 minutos
Origem-Ano: França - 2003
Direção: François Dupeyron
Roteiro: François Dupeyron, baseado em livro de Eric-Emmanuel Schmitt
Sinopse: Durante o início da década de 60, Paris, como a maior parte da Europa, era uma explosão de vida. Conforme o velho dava lugar ao novo, tudo estava fluindo na cidade, cheia de energia que prometia mudanças culturais e sociaia. Com esse cenário, em uma vizinhança de trabalhadores, dois personagens distintos - um jovem judeu e um mulçumano idoso - começam uma amizade. Quando encontramos Momo (Pierre Boulanger) ele é um orfão de onze anos embora viva com seu pai, um homem lentamente se deteriorando em uma depressão. Seus únicos amigos são as prostitutas que o tratam com afeição genuína. Momo faz suas compras em uma loja da vizinhança, um lugar escuro e lotado administrado por Ibrahim (Omar Sharif), um homem exótico que vê e sabe mais do que deixa transparecer. Depois que Momo é abandonado por seu pai, Ibrahim se torna o único adulto na vida de Momo. Juntos começam uma jornada que irá mudar suas vidas para sempre.

30 de abr. de 2009

O Signo da Cidade

Grande surpresa dos últimos tempos. Confesso que já tinha passado por ele na prateleira da locadora e dedicado olhares um tanto desconfiados. Foi o texto da amiga jornalista Jade Martins Lenhart que me deixou instigado e, confesso, fiquei positivamente surpreendido pelo trabalho.

Então, como não poderia deixar de ser, presenteio vocês, previamente autorizado pela autora, com o belo texto da Jade (tá no blog dela, o jadices, com um monte de outros belos textos).

“Não é perda, é movimento.”

O enredo é aparentemente banal: uma astróloga discute na rádio os problemas dos ouvintes, palpitando com a ajuda das constelações do firmamento. A idéia é quase simplória: apresentar a diversidade, de sujeitos, de desejos, de sofrimentos, reunida numa metrópole como São Paulo. Outros dados corroboram o pessimismo preventivo: Carlos Alberto Riccelli (lembram do boto?) na direção, o rebento do casal Lombardi-Ricceli num dos papéis principais, e o bufão Juca de Oliveira conduzindo um enredo cravado de situações limites. O resultado, porém, é tão transformador que me fez esperar esta estranha e definitiva semana correr para escrever.

Tentei descobrir por que mexeu tanto comigo, lutei para absorver a frase abaixo, e devo ter absorvido apenas um punhado do belo significado, me empenhei em reconhecer os cantos mais escondidos do talento notório da escrita de Bruna Lombardi, a roteirista da história. Só hoje me arrisco a definir a complexidade tão bonita do filme: O Signo da Cidade é sobre perda, sobre solidão, sobre experiência, sobre vida. Como se não bastasse, ainda conta com uma profundidade plena de sutilezas, tão difícil de encontrar no cinema brasileiro contemporâneo - salvo raríssimas exceções, como O Céu de Suely.

Descontados a beleza da Bruna Lombardi, o roteiro bem estruturado, as personagens interessantes e diferentes, a direção impecável e a trilha suave, triste e distante como um enterro na infância, escancara aquela força, impressionante e espontânea, típica dos sentimentos mais legítimos. Apresenta uma gente dilacerada, perdida entre opções incapazes de aconchegar. Sugere as saídas, aponta alternativas, reconhece a grandeza das falhas e a beleza dos desfechos mais infelizes. Insinua os abandonos obrigatórios, quando não se pode seguir adiante. Enquadra o sofrimento, mas jamais cai no pieguismo. Com maturidade e complacência, aborda a solidão, não a dos carentes mas aquela que nunca cura. Consegue desvinculá-la de uma idéia de tormento, e aproximá-la da ordem da condição. A solidão da condição humana.

Às vezes, é até capaz de suspendê-la, com vagas sugestões que falhariam em mãos menos sensíveis. Em determinada cena, por exemplo, o moribundo tarado, pai da protagonista, implora para não morrer sem assistir à nudez de uma mulher, qualquer mulher, apenas mais uma vez. Uma enfermeira aceita despir-se para ele, num longuíssimo take que alterna a expressão alegre dele com o corpo mole e gordo dela. Sorriem os dois. Dífícil, muito difícil. E corajoso.

Baita filme: duro, doce, triste. Como a vida de qualquer um.

signo

Título: O signo da cidade
Origem – ano: Brasil – 2008
Duração: 95 min.
Direção: Carlos Alberto Riccelli
Roteiro: Bruna Lombardi
Sinopse: Gil (Malvino Salvador) está casado e só. Lydia (Denise Fraga) flerta com o perigo. Josialdo (Sidney Santiago) nasceu para ser mulher. Mônica só quer se dar bem. No programa noturno de rádio, que atende ouvintes anônimos, a astróloga Teca (Bruna Lombardi) se vê entre os anseios dos outros e os próprios problemas. Aos poucos, o destino enreda a todos numa única teia. Na luta para romper o isolamento e achar o rumo da redenção, eles vão descobrir o poder transformador da solidariedade.

Ausência

Quero me desculpar com os quatro leitores deste humilde bloguinho pela longa ausência. Questões pessoais e de trabalho me mantiveram afastado, tanto das postagens como dos filmes. Mas, na medida do possível, falo um pouco aqui sobre alguns bons filmes que andei vendo nos últimos tempos.

Obrigado pela compreensão e, por favor, vocês quatro: não me abandonem!!!

2 de mar. de 2009

Sideways

Este é um filme de 2004, que revi há poucos dias, e que é simplesmente delicioso – quase que literalmente, já que todo o enredo gira em torno do mundo do vinho na Califórnia.

É a história de dois amigos que se reencontram para uma viagem, uma espécie de despedida de solteiro, por pequenas cidades e suas vinícolas, para curtir, relaxar, beber bons vinhos e jogar golfe. Um deles, Miles, é extremamente pessimista, amargurado e cheio de traumas – não consegue publicar seu livro, que escreve há anos,  trabalha como professor e mal consegue se sustentar, foi largado pela mulher e liga pra ela sempre que enche a cara. Já começa o filme roubando uns trocados da mãe… O outro é um fanfarrão, um ator de comerciais à véspera do casório. Quer curtir sua ‘solterice’ até os últimos momentos e, apesar da idade, morre de medo de assumir o compromisso e a vida séria de casado. E nesta trajetória, ambos se deparam com suas angústias, medos e incoerências, que acabam sendo confrontadas, especialmente no encontro com duas mulheres.

Pode, levando em conta esta descrição, parecer chato, mas é o oposto disso. Graças às brilhantes atuações de Paul Giamatti (o atormentado Miles) e Thomas Haden Church (o porra-louca Jack), ao roteiro e direção de Alexander Payne, que fez uma habilidosa adaptação de um livro, o filme ganha frescor, leveza bem dosada e boas pitadas de humor, sem perder a sinceridade.

Além disso, encontrei aqui coisas que prezo muito num filme: belíssima fotografia e cenários fantásticos – daqueles que nos dão vontade de conhecer o lugar, uma boa trilha sonora envolvente, a exposição de tramas humanos tão corriqueiros e ao mesmo tempo tão complexos.

Há alguns diálogos emblemáticos, como aquele em que Miles explica o porque de sua fixação com vinhos pinot noir e a bela resposta de sua interlocutora, que relata as razões de sua paixão pelo vinho. Não vou reproduzir tudo, mas, no finalzinho, depois de contar tudo, ela diz que, além de toda a explicação filosófica de sua paixão, o motivo maior é que, no final das contas, os vinhos são deliciosos.

E acho que dá pra resumir a razão da qualidade deste filme assim: tem um monte de motivos pra ele ser especial, mas acima de tudo ele é delicioso. E perdoem a obviedade, mas não custa a recomendação: este filme se harmoniza perfeitamente com uma boa taça de vinho, claro.

sideways Título original: Sideways
Origem – ano: EUA – 2004
Duração: 123 min.
Direção: Alexander Payne
Roteiro: Rex Pickett, Alexander Payne e Jim Taylor
Sinopse: Escritor fracassado e recentemente divorciado junta-se a um amigo, um ator aposentado, para uma viagem à Califórnia - na região produtora de vinhos. Lá eles discutem suas vidas e os motivos que levaram ao fim de seus relacionamentos.

20 de fev. de 2009

Vicky Cristina Barcelona

Filmaço do mestre Woody Allen, adorável mesmo para quem não é fã dele. Segue na sua ‘jornada européia’, bem diferente dos seus filmes nova-iorquinos.

Há quem não tenha gostado muito dos anteriores, como Match Point, Scoop ou o Sonho de Cassandra. Mas acho muito difícil não gostar deste. E dou algumas simples e indiscutíveis razões. O filme é rodado em Barcelona, que está exuberante, e em cidades do interior da Espanha, como a belíssima Oviedo – portanto, tudo lindo demais. A trilha sonora é deliciosa. O Javier Barden está muito bem como o pintor galante e dividido de amor Juan Antonio. Mas o que dizer da trinca feminina, com a musa do Wood Allen, Scarlet Johansson, Rebecca Hall e a exuberante e explosiva Penélope Cruz? Fantásticas, as três.

Como se não bastasse tudo isso, o roteiro é bem interessante. A proposta franca de Juan Antonio às duas turistas americanas em férias na Espanha – sexo, comida e vinho – dá início à uma série de triângulos amorosos, onde seus integrantes se deparam com sentimentos, dúvidas, desejos, medo, decepção, conformidades, etc…

E, juro, deu muita vontade de conhecer a Espanha, mesmo que sem a Penélope Cruz e a Scarlet como guias…

vickycristinabarcelonag Título Original: Vicky Cristina Barcela
Direção e roteiro: Woody Allen
Origem-Ano: Espanha : 2008
Duração: 96 min
Sinopse: Duas jovens americanas - a conservadora Vicky (Rebecca Hall) e a aventureira Cristina (Scarlett Johansson) - viajam para Barcelona a fim de passar as férias de verão e acabam se envolvendo em confusões amorosas com um artista extravagante e sua insana ex-esposa.