21 de ago. de 2008

Reine sobre mim

Vou dar um tempo na série 'crianças' pra falar deste filme, que assisti novamente ontem. Acho ele ótimo em vários aspectos: um roteiro bem amarrado, bem escrito, atuações brilhantes e uma fotografia, de certa forma, inovadora. Começando pela fotografia, o mérito é mostrar Nova York, já tão explorada no cinema, de um ângulo diferente: por baixo, da altura de visão do patinete que o protagonista usa para se deslocar. No campo atuação, algumas supera.ções marcantes. Esqueçam o Adam Sandler de filmes bobinhos, como aquele idiota que tem um controle remoto. O cara empresta um poder dramático, uma força, impressionante ao seu personagem. O outro, o Don Cheadle, também dá um banho. Saffron Burrows está fantástica no papel de Donna Remar, uma coadjuvante meio perturbada. A trilha sonora, então, dá um banho.

Para não me alongar demais: é uma visão diferente sobre os atentados do 11 de setembro, mostrando o lado de quem ficou e perdeu a família. O Charlie, personagem do Adam Sandler, perdeu mulher, três filhas e até uma poodle, e mergulhou num universo paralelo - de onde não quer sair de jeito nenhum. O reaparecimento do antigo colega o permite voltar ao convívio social, sem ter que tocar no tema doloroso. O bacana que é a história não é especificamente sobre o cara, mas também sobre esse amigo, Alan Johnson (Don), que vive totalmente oprimido pela mulher, família, trabalho, tudo, e acaba transformando esta amizade e seu esforçar para ajudá-lo amigo numa revolução na própria vida.

Tinha muito mais pra falar, mas não quero estragar a surpresa. Assistam. Ah, não pensem, com toda essa descrição, que é um dramão, daqueles pesados, de chorar do começo ao fim. Nada disso, o filme, na verdade, é cheio de cenas engraçadas, muito leve, corre muito bem. Este, para mim, entra pra galeria dos imperdíveis!

P.S.: Um extra meu: o Charlie é tarado por um joguinho de viodeogame chamado "Shadows of the Colossus". Muito tempo depois, achei o jogo - muito bom, por sinal - numa loja e fui ver do que se tratava. O enredo é a história de um guerreiro, num mundo mágico, que faz de tudo, luta com os tais dos colossos, atravessa o mundo e se mata inteiro para tentar trazer de volta à vida sua amada morta. Que tal?
 
Reine sobre mim
reine_sobre_mim Título original: Reign over me
Duração:
124 minutos
Origem:
EUA: 2004
Direção e Roteiro: Mike Binder
Sinopse: Preso na angústia e na solidão depois de perder a família no atentado terrorista de 11 de setembro, Charlie Fineman (Adam Sandler) reencontra por acaso seu antigo colega de quarto dos tempos da faculdade, Alan Johnson (Don Cheadle), e passa a resgatar bons momentos de sua vida. Nas ruas de Nova York, o órfão tenta se recuperar da tragédia durante os encontros com o velho amigo e seu passado esquecido.

18 de ago. de 2008

Machuca

A história se desenrola durante o curto período do governo Allende no Chile. Então, antes de tudo, temos que entender esse momento histórico para entender, por exemplo, o posicionamento das famílias poderosas e dos desfavorecidos, para usar um termo mais 'politicamente correto' - apesar de eu achar um saco. Mas sem ingenuiedade, por favor. A mecânica social é idêntica, em qualquer lugar, em qualquer época. Mas é bacana ver como se constrói a amizade entre os meninos de classes sociais diferentes e, óbvio, todas as dificuldades no caminho. Interessante o processo mútuo de 'exploração' do universo alheio, e o fascínio que ambos têm pelos seus opostos. Às vezes, a raiva originada pela diferença tão abissal. Confesso que esse foi um filme que vi há muito tempo, mas é, sem dúvida, um filme bem interessante.

machuca Título original: Machuca
Duração: 120 minutos
Origem: Chile / Espanha: 2004
Direção: Andrés Wood
Roteiro: Andrés Wood e Mamoun Hassan
Sinopse: Chile, 1973. Gonzalo Infante (Matías Quer) é um garoto que estuda no Colégio Saint Patrick, o mais conceituado de Santiago. Gonzalo é de uma família de classe alta, morando em um bairro na área nobre da cidade com seus pais e sua irmã. O padre McEnroe (Ernesto Malbran), o diretor do colégio, inspirado no governo de Salvador Allende decide implementar uma política que faça com que alunos pobres também estudem no Saint Patrick. Um deles é Pedro Machuca (Ariel Mateluna) que, assim como os demais, fica deslocado em meio aos antigos alunos da escola. Provocado, Pedro é seguro por trás e um deles manda que Gonzalo o bata, que se recusa a fazer isto e ainda o ajuda a fugir. A partir de então nasce uma amizade entre os dois garotos, apesar do abismo de classe existente entre eles.

Vozes inocentes

Diferente dos outros até aqui, este é um filme com crianças, mas em que a guerra tem um papel mais determinante, não apenas pano de fundo, como no Valentin ou n'O Ano em que meus pais saíram de férias - desse eu falo depois. É muito interessante perceber como, em meio à toda loucura da guerra, as crianças ainda conseguem transformar tudo em normalidade - até certo ponto, claro. Convivem com a situação, se adaptam e seguem. No filme, elas estão na mira dos exércitos - tanto o do governo quanto os rebeldes. Há uma cena, fantástica, em que as tropas governistas fazem um pente-fino numa favela (formada pela fuga das famílias mais pobres da cidade, já que os lugares onde viviam estavam, cada vez mais, na zona de tiro) em busca de crianças. Para não serem recrutadas, sobem nos telhados das casas e ficam lá, quietinhas, até anoitecer. Em uma bela panorâmica, vemos um monte de telhados de zinco coalhados de crianças, deitadas, imóveis e caladas. Chocante. Em outro momento, dois ex-colegas de classe se vêem em exércitos opostos, de armas em punho, atirando uns contra os outros.

Vale para conhecer um pouco deste momento tenso, que historicamente ainda é muito próximo, e para se deliciar - e emocionar - com a maneira como são afetadas as crianças e como elas reagem à tudo isso. Bonito.

vozes-inocentes-poster01t Título Original: Voces Inocentes
Duração: 120 minutos
Origem: México: 2004
Direção: Luis Mandoki
Roteiro: Luis Mandoki e Oscar Orlando Torres, baseado em estória de Oscar Orlando Torres
Sinopse: Anos 80. Chava (Carlos Padilla) é um garoto de 11 anos que, após seu pai abandonar a família em meio à guerra civil de El Salvador, se torna o "homem da casa". Por causa da guerra as forças armadas do governo recrutam garotos de 12 anos, retirando-os das salas de aula. Chava ainda tem um ano até ser também recrutado, sendo que neste período precisa conseguir um emprego para ajudar sua mãe (Leonor Varela) a pagar as contas e também escapar da violência diária causada pela guerra civil.

5 de ago. de 2008

A culpa é do Fidel

Só para entender melhor, já que a sinopse vai abaixo, a diretora e roteirista do filme, Julie Gravas, é filha do cineasta grego Costa-Gravas, conhecido por suas obras politicamente engajadas. Então o filme é um retrato da sua infância, de como ela viu as coisas se transformando ao seu redor, sem entender bem o que estava acontecendo. E mesmo que entendesse, transformações políticas não importam nada no universo de uma criança.

A menina é uma graça, e fica possessa quando perde a casa grande onde morava por um pequeno apartamento, perde a babá cubana que cuidava dela – e que vive dizendo que tudo que acontece de ruim no mundo é culpa do Fidel – sai das aulas de religião e é, de certa forma, marginalizada por suas colegas. É claro que, no meio do seu ‘sofrimento’, ela acaba descobrindo um monte de conceitos novos, que mudarão sua forma de ver e se relacionar com o mundo. Além disso, expõe propositalmente alguns estereótipos esquerdóides típicos da época, uma patrulha ideológica bem doida, mas que tinha que ser vivida plenamente.

Recentemente, li no livro do Zuenir Ventura – O que fizemos de nós – que sua filha recomendou que ele assistisse, pra entender como ela se sentiu naquele período. Para nós, dá pra ter uma idéia bem interessante de como coisas simples afetam profundamente a cabeça de uma criança.

A Culpa é do Fidel  
fidel Título Original:
La Faute à Fidel
Duração: 99 minutos
Origem: França/Itália: 2006
Direção: Julie Gavras
Roteiro: Julie Gavras, com colaboração de Arnaud Cathrine, baseado em livro de Domitilla Calamai
Sinopse: Anna de la Mesa (Nina Kervel-Bey) tem 9 anos, mora em Paris e leva uma vida regrada e tranqüila, dividida entre a escola católica e o entorno familiar. O ano é 1970 e a prisão e morte do seu tio espanhol, um comunista convicto, balança a família. Ao voltar de uma viagem ao Chile, logo após a eleição de Salvador Allende, os pais de Anna estão diferentes e a vida familiar muda por completo: engajamento político, mudança para um apartamento menor, trocas constantes de babás, visitas inesperadas de amigos estranhos e barbudos. Assustada com essa nova realidade, Anna resiste à sua maneira. Aos poucos, porém, realiza uma nova compreensão do mundo.

Valentin

O Valentin é fantástico. Como a capa do DVD não chama muita atenção, me arrisquei na dica do menino da locadora e tive uma grata surpresa. O filme se passa no período da ditadura militar argentina – mas, atentem, este não é o tema, é só pra se situar e entender algumas coisas do filme. A história é de um menino de 8 anos, estrábico – lindo! – com uma imaginação gigantesca, e que sofre profundamente suas angústias infantis. Ele é criado pela avó, o pai o visita muito pouco e lhe dá ainda menos atenção, além de ambos falarem muito mal da mãe que o abandonou. Fotografia, música, atuação, tudo é impecável neste filme. Destaque especial para a narrativa, em off, do filme, toda feita pelo menino. Tudo muito bem dosado, com muito humor e sensibilidade. Sem estragar a surpresa, mas há uma cena muito triste em que ele conta que, às vezes, brinco consigo mesmo dizendo que, se contar até mil, a mãe dele vai chegar. Ele conta, conta, conta, e ela não chega...

Já indiquei esse filme pra um monte de gente e a opinião tem variado bastante: de um másculo “porra, quase chorei” à um feminino “eu quero adotar o Valentin”. Imperdível.

Valentin 
valentin Título Original: Valentin
Origem: Argentina/2005
Diretor: Alejandro Agresti
Duração: 83 minutos
Sinopse: Vencedor do Audience Award no Newport International Film Festival, do Golden Calf Award no Nederland Film Festival e outros importantes prêmios, Valentin é a visão encantadora do escritor e diretor Alejandro Agresti sobre o mundo que envolve um encantador e precoce garotinho de 8 anos de idade. Com pais ausentes e um ambiente familiar conturbado, Valentin é uma criança encantadora e imaginativa, cujo maior sonho é ser uma criança comum, com uma família de verdade. Enquanto ele tenta consertar as falhas em seu mundo, ele será capaz de trazer alegria, sabedoria, e até mesmo romance aos adultos que o cercam. Valentin é um filme divertido, emocionante e irresistível, que convida cada um a ver a vida com outros olhos.

A cor do paraíso

Este é um dos filmes mais bonitos e tocantes que assisti nos últimos tempos. Começo com ele para abrir uma série de filmes com crianças protagonistas que me emocionaram muito. Quero antes dizer uma coisa sobre filmes com crianças: detesto filmes com crianças que fazem papéis de idiota, ou que tentam parecer adultas, super inteligentes, cheias de planos mirabolantes e falando um milhão de bobagens. Simplesmente irritante. No entanto, filmes com crianças de verdade, que vivem sentimentos de criança, com muita sinceridade e sensibilidade, são sempre emocionantes.

Mas voltemos à Cor do Paraíso. O filme, iraniano, conta a história de um menino cego (Mohammad) que mora numa escola para deficientes visuais em Teerã e que, nas férias, volta para seu vilarejo nas montanhas, onde convive com as irmãs e a avó. O pai, que é viúvo, se prepara para casar novamente e vive rejeitando o menino. É importante perceber que na cultura islâmica, são os filhos homens que têm a obrigação de cuidar dos pais na velhice – e para o pai de Mohammad, ele é imprestável e ainda o atrapalha na conquista da nova esposa. Mas o menino, apesar de tudo, é muito vivo, inteligente, e extremamente sensível à tudo que o rodeia – seja a natureza, os estudos, Deus e as pessoas que o amam. Simplesmente maravilhoso. Há uma cena, em especial, onde o menino desabafa com outro cego e conta à ele suas conversas com Deus, que é indescritível, algo de sublime, transborda de emoção.

Como se não bastasse tudo isso, o filme ainda tem uma fotografia belíssima, uma trilha sonora à altura e atuações impecáveis, a começar pelo próprio menino (Mohsen Ramezani) e pelo pai - juro, tem hora que dá vontade de bater!

Por favor, não se prendam à preconceitos, assistam o filme (legendado, por favor! tem que ouvir a voz do menino!) e me digam depois. O filme recebeu um monte de prêmios internacionais. Aliás, depois de assistir, agradeço a quem me mandar um comentário sobre como entendeu o final. Lá em casa, gerou dúvida.

cor do paraíso Título Original: Rang-E Khoda / Color of Paradise, The
Gênero: Drama
Origem: IRÃ/1999
Duração: 90 min
Direção e roteiro: Majid Majidi
Sinopse: A Cor do Paraíso narra a comovente história de Mohammad, um menino cego que mora numa escola para deficientes visuais e que, nas férias, volta para seu vilarejo nas montanhas, onde convive com as irmãs e sua adorada avó. O pai, que é viúvo, se prepara para casar novamente. Mohammad é um garoto muito vivo, que tem uma enorme sensibilidade. Seu jeito simples de "ver o mundo" é uma lição de vida. Dirigido por Majid Majidi, o mesmo do consagrado Filhos do Paraíso.

Conversas com meu jardineiro

Uma delícia! Um filme francês que conta, com muita graça, a história de um renomado pintor francês que, vivendo uma crise existencial e profissional, retorna às suas origens, à casa de sua infância, onde reencontra um antigo colega de escola. Este, interpretado com maestria por Jean-Oierre Darroussin, se oferece para a vaga de jardineiro na casa do pintor, o não menos brilhante Daniel Auteuil. A partir daí, ele revê conceitos equivocados cultivados por toda a vida - sobre arte, relacionamento, beleza - e descobre, na simplicidade do jardineiro, o valor das pequenas coisas, ou melhor, das coisas que realmente importam. Leve, engraçado e belo, belíssimo.

conversas-com-meu-jardineiro-poster01t Título Original: Dialogue Avec Mon Jardinier
Gênero: Comédia
Duração: 109 minutos
Origem: França – 2007
Direção: Jean Becker
Roteiro: Jean Becker, Jean Cosmos e Jacques Monnet, baseado em livro de Henri Cueco
Sinopse: Um pintor bem sucedido (Daniel Auteuil) deixa Paris para retornar à pequena cidade onde nasceu, há mais de 50 anos. Sua casa antiga está abandonada, cercada de plantas e mato. Ele decide contratar um jardineiro (Jean-Oierre Darroussin) para lhe ajudar na limpeza. Para sua surpresa, o novo jardineiro é um velho amigo de colégio, que o pintor não via há décadas. Logo uma amizade madura nasce entre os dois, permeada pelas diferentes experiências de vida de cada um.