18 de set. de 2008

Ágata e a Tempestade

Na seqüencia do “Pão e tulipas”, vamos à outro filme do mesmo diretor, o italiano Sílvio Soldini. Que delícia é este “Ágata e a tempestade”!

Não sei, me parece que o diretor tem uma queda – e um talento – para interpretação da alma feminina. O faz com maestria.

O filme trata, de uma forma muito especial, de pessoas que vivem sua vida pela metade – e o faz por várias alegorias, sinais (uma paraplégica, uma que ama um cara, mas ele é casado, outro que descobre, depois de adulto, que tem um irmão e não é filho de quem pensava ser, e por aí vai). Mas faz tudo isso com muito leveza e humor.

Mais uma vez, o diretor usa e abusa da fotografia, belíssima e extremamente colorida.

Quem já assistiu ao Pão e Tulipas, vai adorar. Quem não assistiu, alugue logo dos dois. Vai gostar ainda mais!!

Título original: Ágata e La Tempesta
Origem/Ano: Itália – Suiça - Inglaterra : 2004
Duração: 118 min
Direção: Silvio Soldini
agatalatempesta Sinopse: Um clima surreal percorre a vida de Ágata (Licia Maglietta, de Pão e Tulipas) uma dona de livraria em Gênova capaz de prescrever livros aos clientes como remédios. Dona de uma intensa energia, não só no sentido abstrato, ela é capaz de literalmente provocar curto-circuitos e queimar lâmpadas de casas e automóveis à sua passagem. Uma personalidade assim candente põe a seus pés homens como Nico, seu namorado 13 anos mais jovem do que ela, e também o irmão gêmeo dele, o que provoca algumas confusões. O clima de perplexidade se completa quando Ágata descobre que Gustavo, que sempre pensou que era seu irmão, na verdade é irmão de outra pessoa, o vendedor-viajante Romeo. Neste clima de ambigüidade e redescoberta de tudo, Ágata põe à prova seus conceitos e sua atitude diante da vida.

Pão e Tulipas

Esta é uma bela comédia romântica italiana, com uma vantagem competitiva praticamente insuperável: é quase todo rodado em Veneza. Juro que, só por isso, já valeria a pena assistir. Mas há mais, muito mais.

Abre parênteses: minha mulher sempre adorou comédias românticas. Particularmente, nunca tive lá grandes quedas pelo gênero. Ultimamente assistimos uns pastelões americanos que nos deixaram ainda mais traumatizados. Tenham certeza, não é isso que encontrarão neste filme. Humor e romance, aos montes. Pastelão, jamais. Fecha parênteses.

A sinpose – bem completinha, aliás – está logo aqui embaixo, então não vou falar muito da história. O filme é engraçadíssimo, mas não há nenhum atuação, no núcleo central, obviamente, que se acentue demais sobre as outras. Estão todos muito bem. O diretor conseguiu aliar com muito harmonia momentos de muito humor – as perseguições furadas do pretenso detetive – com a reflexão sobre a situação de Rosalba e de cada um dos personagens que passam a orbitar nessa ‘retomada’ no rumo de sua vida.

E recomeçar em Veneza, meus caros, é sempre um belo recomeço…

paoetulipas Título Original: Pane e Tulipani
Origem/Ano: Itália – França : 2000
Duração: 115 min
Direção: Silvio Soldini
 Sinopse: Rosalba, uma dona de casa de Pescara, Itália, está viajando numa excursão de ônibus com sua família. Ao parar em um restaurante de beira de estrada, ela é esquecida pelo marido e pelos filhos. Uma situação propícia para ela fazer o que sempre quis: conhecer Veneza, a cidade dos seus sonhos. Pede carona, deixando apenas um evasivo recado na secretária eletrônica do marido: “Férias”. Nesta pequena escapada, ela irá descobrir uma realidade que nunca experimentou, longe da família e dos afazeres da casa. Enquanto isso, o marido contrata um encanador, fanático por histórias de detetive, para ir atrás da mulher. Mas Rosalba já organizou sua nova vida: arrumou emprego com um velho florista anarquista; um apartamento, que divide com um garçom finlandês, e a amizade da vizinha, Grazia, uma esteticista e massagista. Por insistência do amigo garçom, ela retoma também uma antiga paixão, o acordeão. Quando o encanador-detetive a encontra, ele também percebe que a vida pode ser muito mais divertida do que parece.

16 de set. de 2008

Feliz Natal

Ótimo filme. Quando um tenor alemão é convocado para lutar na guerra, sua namorada, também cantora de ópera, faz de tudo para vê-lo na noite de natal, no front conflagrado, onde estão também os fronts dos franceses e dos escoseces – os três lutando entre si. Quando se juntam, tentam, com sua arma mais poderoso, trazer algum alento aos soldados: cantam, uma música de natal, à capela, belíssima.

É a música que desperta uma fagulha de humanidade, que rapidamente se incendeia, transformando aquela noite numa grande festa, onde cada um deles troca presentes, impressões e experiências. E acabam, de certa forma, criando laços mais fortes e compreendendo a estupidez da guerra.

Além disso, ficam latentes as diferenças culturais entre estes povos, em algumas cenas engraçadíssimas. Mas tudo isso – as diferenças culturais e a guerra – pode ser superado.

Li em algum lugar que é uma história real. Se foi mesmo, melhor ainda – são as melhores. Mas mesmo se não, é uma grande história.

feliz-natal-poster Título Original: Joyeux Noël
Duração: 116 minutos
Origem-Ano: França/Alemanha/ Inglaterra/Romênia : 2005
Direção e roteiro: Christian Carion
Sinopse: Natal de 1914, em plena 1ª Guerra Mundial. A neve e presentes da família e do exército ocupam as trincheiras francesas, escocesas e alemãs, envolvidas no conflito. Durante a noite os soldados saem de suas trincheiras e deixam seus rifles de lado, para apertar as mãos do inimigo e confraternizar o Natal. É o suficiente para mudar a vida de um padre anglicano, um tenente francês, um grande tenor alemão e sua companheira, uma soprano.
Site Oficial: www.merrychristmas-themovie.com

15 de set. de 2008

Lugares comuns

Este é um filme muito interessante, além de bonito. O professor é um daqueles idealistas incorrigíveis, mas que vive de acordo com suas crenças e ideologias, mesmo que isto signifique atritos com sua família e amigos, além de problemas na vida profissional.

A narração em off feita por ele mesmo é fantástica. Uma das primeiras cenas, quando ele faz seu discurso de despedida dos alunos, é belíssima, um libelo em favor da liberdade, da arte e da coerência.

No desenrolar da história, ele vai revendo e reavaliando seus conceitos, se confessando pro diário que escreve. O filme não tem a intenção de dar lição de moral à ninguém, e nem deixa claro de que lado está a razão, apesar de a história ser contada pelo próprio professor. Você pensa, às vezes, que ele é só mais um louco, um sonhador.

Mas o que seria deste mundo sem eles, estes loucos maravilhosos? Além de tudo, aquela fazenda onde ele vai plantar lavanda é linda, meu sonho de vida. Já tô de olho num pedacinho de terra em São Joaquim…

lugares-comuns-poster02 Título Original: Lugares Comunes
Duração: 110 minutos
Origem-Ano: Espanha - 2002
Direção: Adolfo Aristarain
Roteiro: Adolfo Aristarain e Kathy Saavedra, baseado em livro de Lorenzo F. Aristarain
Sinopse: A vida do professor universitário argentino Fernando Robles muda depois que ele é obrigado - por decreto - a se aposentar. Ao lado de sua mulher Liliana - com quem faz um casal apaixonado e dedicado - viaja à Espanha para visitar o filho. Eles se amam, se respeitam e são fiéis um ao outro, e nunca se cansam de estar a sós, somente os dois. Na volta, assustados com o custo de vida de Buenos Aires, Fernando e Liliana procuram novas ocupações mudando-se para uma fazenda onde pensam em plantar lavanda. Como num tango saudoso, Fernando sonha com dias melhores enquanto passa sua vida a limpo no diário que escreve diariamente.

Os indomáveis

Assiti neste final de semana “Os indomáveis”, direção de James Mangold. Gostei, é um bang-bang dos bons, extremamente bem produzido, redondinho mesmo.

O diretor explora bem tanto as cenas de ação como os momentos mais intimistas, as idiossincrasias de cada um, bandidos e mocinhos. O rancheiro humilhado, endividado e sem um pedaço da perna, interpretado por Cristian Bale, está muito bom. Também gosto bastante do Russell Crowe. Tem um outro cara, que eu acho fantástico, chamado Ben Foster, que está ótimo. Ele interpreta um dos membros da gang de Ben Wade, fiel como um cachorro. Já tinha visto este ator em Alpha Dog (pra quem assistiu, ele faz o maluco nazista que tem seu irmão sequestrado - depois comento este filme).

Confesso que nunca fui grande fã de filme de faroeste, fora uma ou outra exceção. Indico para quem estava com saudades de gênero, imortalizado por ícones como John Ford e John Wayne – e depois pelo Clint Eastwood, que parecia ter se esgotado.

 indomaveis Título Original: 3:10 to Yuma
Duração: 117 minutos
Origem: EUA / 2007
Direção: James Mangold
Roteiro: Halsted Welles, Michael Brandt e Derek Haas, baseado em estória de Elmore Leonard
Sinpose: Um perigoso líder de gangue é levado por um grupo a uma cidade distante, onde será embarcado em um trem rumo a uma prisão. Dirigido por James Mangold (Johnny & June) e com Russell Crowe, Christian Bale e Peter Fonda no elenco. Recebeu 2 indicações ao Oscar.
Site Oficial: www.310toyumathefilm.com

12 de set. de 2008

Maria cheia de graça

Este é um filme muito bacana, que eu já queria ter postado aqui há mais tempo. O filme é rodado parte na Colômbia, parte nos EUA, mas na verdade é uma produção da HBO (ainda bem que os atores hispanos falam espanhol mesmo, e não aquele inglês tosco com sotaque que americano adora colocar. Desculpem a palavra, mas quando fazem isso cagam completamente o filme. Tem um outro filme sobre a vida de Goya, vi num trailler, que eu nem quero ver, pois é todo falado em inglês. Goya em inglês não dá… Mas depois posto um sobre o Goya bem legal, espanhol mesmo).

A história é velha conhecida: a menina pobre, que cai em tentação com a proposta de ganhar dinheiro sendo mula, carregando cocaína dentro do corpo para os EUA, e assim fugir da vidinha sem perspectivas que leva.

Os atores, e em especial a protagonista, Catalina Sandino, estão muito bem e emprestam muito realismo ao filme. Apesar de ser contada por um americano, a história não fica carregada demais, ou por outra, mais carregada do que já é. Algumas cenas são chocantes, como a que Maria engole as ‘cápsulas’ recheadas de cocaína.

Sem dúvida uma grande história, muito bem contada. Ah, notem o poster do filme. Lindo, não?

mariacheia Título original: Maria, Llena eres de Gracia
Origem-Ano: Colômbia-Estados Unidos – 2004
Duração: 110 min.
Diretor: Joshua Marston
Elenco: Catalina Sandino Moreno, Yenny Paola Vega, Guilied Lopez
Sinopse: Maria é uma jovem corajosa, rebelde e cheia de vida. Mas como muitos em seu país, ela vive numa condição de miséria e exploração. Seu trabalho é tirar espinhos de rosas para exportação e através dele ela precisa sustentar sua família sozinha. Morando em uma vila antiga e em uma casa pequena ela acaba ficando grávida de um namorado que não ama. Com apenas 17 anos, Maria não consegue enxergar seu futuro. Num rompante de ousadia, ela desafia o mundo em que vive mas ao qual não pertence, e se embrenha numa aventura perigosa. Maria Cheia de Graça mostra com uma honestidade desconcertante “o outro lado da moeda do sonho americano” e o que pessoas como Maria fazem para tentar resgatar sua dignidade e conquistar seus sonhos.

O Sonho de Cassandra

Sei, demorei, mas enfim consegui assitir. Este é o último do Wood Allen, antes do “Barcelona…” – parênteses especiais: que eu estou louco pra ver, com Scarlett Johansson e Penélope Cruz. Também tem o Javier Barden, que é ótimo, mas com essas duas, meus caros, nem precisava de mais ninguém…

Segue o estilo do Match Point – que também me agradou. Boas atuações, um roteiro bem amarrado, com alguns diálogos soberbos, enfim…

Não há muito a se dizer – ou melhor: há, mas nada que já não tenho sido dito. A ligação com o Crime e Castigo, do Dostoiévski, a história das pessoas de “boa índole” que cometem atos impensáveis quando em situações limite, enfim…

Mas façam suas próprias avaliações filosóficas. O filme é bom!

O Sonho de Cassandra 
cassandraTítulo Original:  Cassandra's Dream
Origem:  EUA-Inglaterra-França - 2007
Duração: 108 minutos
Site: www.cassandrasdreammovie.com
Direção e roteiro:  Woody Allen
Sinopse: O Sonho de Cassandra é um filme poderoso e excitante sobre dois irmãos (Ewan McGregor, Colin Farrell) que estão ávidos para melhorar suas vidas. Terry (Colin Farrell) é um jogador compulsivo afogado em dividas e Ian (Ewan McGregor) é o jovem sonhador que se apaixona pela bela atriz Angela Stark (Hayley Atwell). Seu tio milionário (Tom Wilkinson) torna suas vidas, pouco a pouco em um emaranhando de intrigas, interesses com resultados desastrosos.

9 de set. de 2008

Chega de Saudade

Já que começamos, sigo na trilha dos filmes sonoros. Este é o segundo filme de Laís Bodanzky, diretora do "Bicho de Sete Cabeças", que é outro filmaço. Mas este é totalmente diferente, outra história, outro clima, outro foco, enfim, outro filme.

A história se desenrola inteiramente durante um dia, dentro de um salão de bailes em São Paulo, daqueles pra terceira idade - o clube se chama, na verdade, União Fraterna – e aqui virou Chega de Saudade, uma referência ao apelido desses bailinhos, os bailes da saudade.

Pra começar, a trilha sonora é fruto de uma pesquisa muito ampla, passeando por todos os estilos - os dançantes, obviamente, como salsa, bolero, samba de gafieira, tango e por aí vai. Além disso, tem a Elza Soares cantando (ela se apresenta no clube), simplesmente deslumbrante. Além disso, o roteiro é ótimo, também fruto de pesquisa nesse universo dos bailes. Tem também um elenco fantástico – tanto o de atores como o de figurantes.

Nesta história dos figurantes, vale um destaque: a diretora os chamava de elenco de apoio, tal a importância deles na construção do filme. São todos freqüentadores dos bailes, ou seja, meia idade e idosos, e que se misturaram e interagiram perfeitamente com o apoio, e deram um banho. Pra se ter uma idéia, o figurino de todos era real, ou seja, as roupas que eles usam para ir aos bailes. Uma figura mais interessante que a outra.

Vou me alongar um pouco mais. Tenho que falar da fotografia. O diretor, Walter Carvalho teve total liberdade na criação de seus planos de câmera, o que foi bem complicado, pois eles filmavam dentro de um salão de verdade, e esta era a única solução. E daí alguém pode perguntar como um filme que só tem um cenário, e este é um clube meio pé-sujo, pode ter uma bela fotografia? Pois tem, belíssima. Poética. Como as histórias daquela turma toda. Assistam os extras do filme quando alugarem para entender melhor – tem até mini-aula de dança!!! E olhem o site também, que é bem bacana.

O filme é cheio de vida, de sentimento, de história e de música, claro. Me peguei enxergando naquelas pessoas algumas que conheço, e torcendo para que outras tantas cheguem lá. E isso não é falácia, não, dicurso fácil, e está aí outra grande virtude do filme.

Além de tudo isso, juro que deu vontade de atender os pedidos da patroa e fazer dança de salão, além, é claro, de comprar um daqueles sapatos preto-e-branco...

chegadesaudade_01Origem-Ano: Brasil - 2008
Gênero: Drama
Duração: 92 minutos
Direção e roteiro: Laís Bodanzky
Fotografia: Walter Carvalho
Site Oficial: 
www.chegadesaudadeofilme.com.br
Sinopse: A história acontece em uma noite de baile, em um clube de dança em São Paulo, acompanhando os dramas e alegrias de cinco núcleos de personagens freqüentadores do baile. A trama começa ainda com a luz do sol, quando o salão abre suas portas, e termina ao final do baile, pouco antes da meia-noite, quando o último freqüentador desce a escada. Mesclando comédia e drama, Chega de Saudade aborda o amor, a solidão, a traição e o desejo, num clima de muita música e dança.

8 de set. de 2008

Ó pai, ó

Ainda na empolgação do Apenas uma vez, segue a dica de outro filme ‘sonoro’. Extremamente contagiante – da vontade de sair dançando - “Ó pai, ó” é um retrato de Salvador e de seu povo, do que tem de melhor e de pior. Você pode analisar por diversos aspectos: a musicalidade, a alegria, aquela coisa de estar cheio de problemas mas mesmo assim conseguir levar a vida e seguir brincando, ésteriótipo de brasileiro e, mais ainda, de baianos. Mas tem também a pobreza, que talvez em nenhum outro lugar se misture tanto, no mesmo espaço. Vou ser mais claro: no Pelourinho, você sente essa atmosfera fantástica, cultural, musical, negra, e presencia as malezas, a pobreza, o desleixo com aquele povo e com a sua vida.

É uma tragi-comédia musical, com uma trilha sonora bem bacana e atuações muito boas. A dupla Lázaro Ramos/Wagner Moura, como sempre, está fantástica. O Wagner Moura, fazendo o papel de um traficante da comunidade, o Boca – “não me chama de Moisés, não pô…”, está engraçadíssimo. E o Lázaro Ramos até cantando se saiu bem. Fora eles e o Stenio Garcia, a maioria dos atores é desconhecida, muitos deles componentes do Bando de Teatro Olodum – de onde saiu o Lázaro também. Aliás, o texto, escrito por Márcio Meirelles, já havia sido encenado pelo Bando.

Vale ressaltar que o filme não faz uma crítica social propriamente dita – ela está implícita, fica para nossa reflexão. Apresenta uma série de esteriótipos baianos – a macumbeira, a baiana do acarajé, a crente, a mulher que foi tentar a vida na Europa, enfim… Tudo com muita graça, bom humor e música.

Então, se você não foi à Bahia, nego, então vá. Não vá pensando em encontrar os personagens do filme nem aquele ambiente permanente de carnaval, mas um pouco de tudo está lá, sim.

opaio Título Original: Ó Paí, Ó
Gênero: Comédia
Duração: 98 min.
Ano: Brasil - 2007
Distribuidora: Europa Filmes
Direção e Roteiro: Monique Gardenberg, baseado na peça teatral de Márcio Meirelles
Sinopse: Em um animado cortiço do centro histórico do Pelourinho, em Salvador, tudo é compartilhado pelos seus moradores, especialmente a paixão pelo Carnaval e a antipatia pela síndica do prédio, Dona Joana (Luciana Souza). Todos tentam encontrar um lugar nos últimos dias do Carnaval, seja trabalhando ou brincando. Incomodada com a farra dos condôminos, Dona Joana decide puni-los, cortando o fornecimento de água do prédio. A falta d'água faz com que o aspirante a cantor Roque (Lázaro Ramos); o motorista de táxi Reginaldo (Érico Brás) e sua esposa Maria (Valdinéia Soriano); o travesti Yolanda (Lyu Arisson), amante de Reginaldo; a jogadora de búzios Raimunda (Cássia Vale); o homossexual dono de bar Neuzão (Tânia Tôko) e sua sensual sobrinha Rosa (Emanuelle Araújo); Carmen (Auristela Sá), que realiza abortos clandestinos e ao mesmo tempo mantém um pequeno orfanato em seu apartamento; Psilene (Dira Paes), irmã de Carmen que está fazendo uma visita após um período na Europa; e a Baiana (Rejane Maia), de quem todos são fregueses; se confrontem e se solidarizem perante o problema. Em meio à este enredo, muita música e alegria.

4 de set. de 2008

Você é tão bonito

Muito bacana. O cara – Michel Blanc, numa atuação fantástica - é um daqueles fazendeiros do interior da França, com a personalidade repleta de todos os esteriótipos dos franceses do interior, somados ao seu perfil extremamente introspectivo. A história está lá embaixo – ele na verdade não quer uma esposa, mas simplesmente alguém que o ajude nas tarefas da fazenda, depois da morte da sua mulher. E quando descobre essa agência de casamentos com mulheres romenas, vê a oportunidade perfeita. E mais barata, obviamente.

Por exemplo, ele cria uma história maluca para a família, com a intenção de esconder o ‘método’ utilizado para conhecer a nova esposa, e se mete um uma série de embaraços por causa disso, todos engraçadíssimos. Por outro lado, é interessante ver a situação das ‘noivas’ romenas, que, fugindo dos restos do comunismo, fazem de tudo para conseguir um marido francês.

Basicamente, é uma comédia romântica, com momentos muito engraçados e outros comoventes. Segue o padrão da categoria, mas de forma inteligente e honesta. Gostei bastante.

Você é tão bonito  
Jevoustrovetresbeau Título Original: Je vous trouve très beau
Direção:  Isabelle Mergault
País:  França - 2005
Duração: 95 minutos
Sinopse: Comédia sobre um fazendeiro viúvo, que ao procurar por uma esposa numa agência de matrimônio, recebe a sugestão de ir a Romênia, onde muitas mulheres sonham em se casar com um francês para melhorar de vida. Ele só precisa de alguém que possa ajudá-lo a manter a fazenda em perfeito funcionamento. Ao chegar lá, porém, ele conhece uma bela jovem, cujas "experiências" não são exatamente as que ele almejava e juntos eles atravessar grandes experiências.

Once, again

Assisti ontem com a Ju ao “Apenas uma vez”, do diretor irlandês John Carney. Eu já tinha assistido na semana passada e topei ver de novo, de tanto que gostei.

Explico. O filme é despretensioso, honesto, simples, bonito e tem uma trilha sonora maravilhosa – aliás, uma das canções, Falling Slowly, ganhou o Oscar de melhor canção original este ano (ouça aqui). A idéia do diretor e roteirista era bem simples: um músico de rua, em Dublin, na Irlanda, desiludido no amor, conhece uma imigrante checa, que canta e toca piano, eles se curtem, não ficam juntos, nem se beijam, nada, e se ajudam. Ponto final. E no meio disso tudo, música. Mas a música faz a costura perfeita, inclusive de enredo, da história toda. E fica ótimo.

Tem alguns detalhes interessantes. Os enquadramentos são meio bagunçados, às vezes distantes – há momentos em que passa uma penca de gente na frente da câmera. Parece vídeo caseiro. Como o diretor queria um filme sobre música, preferiu escolher músicos que pudessem atuar à atores que soubessem cantar. E a distância das câmeras é para deixá-los mais à vontade, sem tanta pressão. Para se ter uma idéia, o filme foi rodado em apenas três semanas, com orçamento de US$ 70 mil. Para quem conhece um pouquinho dos custos de um filme, tem noção que foi muito, muito pouco. Mais uma vez, escolha do diretor, pois não queria pressão de tempo, de responsabilidades, de nada. Queria um filme íntimo. E para isso escolheu um amigo, Glen Hansard, que sugeriu sua amiga, Markéta Irglová. E ambos se saem muito bem intrerpretando eles mesmos. Curiosidade: o diretor conheceu Glen quando foi admitido para ser baixista de sua banda, The Frames.

Sei dizer que é daqueles filmes que a gente torce para não acabar, para que dure um pouco mais, para que tudo dê certo. E não dá pra não lembrar do Vinícius, que dizia que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida…

Onceposter Título original: Once
País/ano: Irlanda 2006
Duração: 88 min
Direção: John Carney
Site: www.foxsearchlight.com/once
Sinopse: Ele é um talentoso músico, que ganha a vida com seu violão nas ruas de Dublin e ajuda o pai em uma loja de aspiradores de pó. Ela é tcheca que anda pelas mesmas ruas, vendendo rosas para sustentar sua família e tem como hobby o piano. O acaso fez com eles se encontrassem e a paixão pela música fará com que eles vivam uma experiência inesquecível. Uma linda história de amor embalada por músicas que traduzem os caminhos do coração. Um musical dos dias atuais.

2 de set. de 2008

O Poderoso Chefão

Está é, sem dúvida, uma das grandes seqüências de filmes da história do cinema, uma obra prima de Francis Ford Coppola. Estes dias peguei os três para assistir – era muito pequeno quando vi pela primeira vez, nem lembrava mais qual era o 1, o 2 e 3. Atuações primorosas: o Robert De Niro como o jovem Vito Corleone; o Marlon Brando, como Corleone já mais velho; o Al Pacino como Michael Corleone e o ainda pouco conhecido Andy Garcia, como Vincent "Vinnie" Mancini. Isso sem falar nos personagens secundários.

É até difícil escrever sobre esses filmes, de tanto à falar… A saga da família Corleone começou a ser contada pelo Mário Puzzo – que na verdade foi chamado para fazer um roteiro, que foi recusado e virou livro. O livro fez muito sucesso e o estúdio mudou de idéia e resolveu filmar. O Coppola tem um trabalho extremamente autoral, mas respeitando bastante o roteiro original (como Drácula, de Bram Stoker, The Godfather, de Mario Puzzo). E a história da máfia italiana nos Estados Unidos e seu poderio dos anos 40 em diante é muito interessante. Só isso já valeria. Os detalhes da construção do poder dos mafiosos, que remontam a vida rural na Sicília – lembra um pouco os nossos coronéis do sertão, ou não? – enriquecem a narrativa.

Os conflitos internos dos personagens são muito bem explorados – a solidão do poder, as decisões difícies tomadas em defesa deste poder, o misto de medo, ódio, admiração e respeito da família ao grande capo, enfim, está tudo lá. Uma história completa.

A fotografia é linda e a trilha sonora, então, virou um clássico. Quem não lembra da música tema, aquele tan-na-na-nam na-nam... É só escutar e vem a imagem do Brando, cabelos brancos, aquela voz rouca fazendo força para sair da garganta, os lábios caídos... Uma imagem eterna, que ultrapassou os limites do cinema e transformou-se em marca, referência absoluta. Dali pra frente, nem um filme de máfia foi mais o mesmo...

Daquelas obras para se ter em casa e assistir de vez em sempre...

Ficha técnica (básica, para os três):
Título Original: The Godfather
Gênero: Drama
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola, baseado em livro de Mario Puzo
Produção: Francis Ford Coppola
Música: Nino Rota e Carmine Coppola
Direção de Fotografia: Gordon Willis

Sinopses:

poderoso-chefao-poster01 O Poderoso Chefão I (1972 – 171 minutos)
Em 1945, Don Corleone (Marlon Brando) é o chefe de uma mafiosa família italiana de Nova York. Ele costuma apadrinhar várias pessoas, realizando importantes favores para elas, em troca de favores futuros. Com a chegada das drogas, as famílias começam uma disputa pelo promissor mercado. Quando Corleone se recusa a facilitar a entrada dos narcóticos na cidade, não oferecendo ajuda política e policial, sua família começa a sofrer atentados para que mudem de posição. É nessa complicada época que Michael (Al Pacino), um herói de guerra nunca envolvido nos negócios da família, vê a necessidade de proteger o seu pai e tudo o que ele construiu ao longo dos anos.

poderoso-chefao-2-poster01 O Poderoso Chefão II (1974 – 200 minutos)
Início do século XX. Após a máfia local matar sua família, o jovem Vito (Robert De Niro) foge da sua cidade na Sicília e vai para a América. Já adulto em Little Italy, Vito luta para ganhar a vida (legal ou ilegalmente) para manter sua esposa e filhos. Ele mata Black Hand Fanucci (Gastone Moschin), que exigia dos comerciantes uma parte dos seus ganhos. Com a morte de Fanucci o poderio de Vito cresce muito, mas sua família (passado e presente) é o que mais importa para ele. Um legado de família que vai até os enormes negócios que nos anos 50' são controlados pelo caçula, Michael Corleone (Al Pacino). Agora baseado em Lago Tahoe, Michael planeja fazer por qualquer meio necessário incursões em Las Vegas e Havana instalando negócios ligados ao lazer, mas descobre que aliados como Hyman Roth (Lee Strasberg) estão tentando matá-lo. Crescentemente paranóico, Michael também descobre que sua ambição acabou com seu casamento com Kay (Diane Keaton) e até mesmo seu irmão Fredo (John Cazale) o traiu. Escapando de uma acusação federal, Michael concentra sua atenção para lidar com os seus inimigos.

poderoso-chefao-3-poster01 O Poderoso Chefão III (1990 – 172 – minutos)
Nova York, 1979. A Ordem de San Sebastian, um dos maiores títulos dados pela Igreja, é dada para Michael Corleone (Al Pacino), após fazer uma doação à Igreja de US$ 100 milhões, em nome da fundação Vito Corleone, da qual Mary (Sophia Coppola), sua filha, é presidenta honorária. Michael está velho, doente e divorciado, mas faz atos de redenção para tornar aceitável o nome da família Corleone. Na comemoração pelo título recebido, após 8 anos de afastamento, Michael recebe "Vinnie" Mancini (Andy Garcia), seu sobrinho, que a pedido de Connie (Talia Shire) é apresentado a Michael manifestando vontade de trabalhar com o tio. Nesta tentativa de diálogo a conversa toma um rumo hostil, pois participava também da reunião Joey Zasa (Joe Mantegna), que agora mantém o domínio de uma área outrora mantida por Don Vito Corleone, o pai de Michael. Vinnie é chefiado por Zasa, mas fala que não quer continuar, principalmente pela traição de Zasa de não reconhecer o poder de Michael. Vinnie é quase morto pelos capangas de Zasa e uma guerra pelo poder tem início. Um arcebispo da Igreja solicita a Michael US$ 600 milhões, pois resolveria o déficit da Igreja, oferecendo em troca que Michael ganhe o controle majoritário da Immobiliare, antiga e respeitável empresa européia de propriedade da Igreja. Michael concorda, mas isto deixa vários membros do clero contrariados, que não o aceitam por sua vida duvidosa.

Narradores de Javé

Este é um filme bem antigo, que eu já queria ter assistido antes, porém não é muito fácil de encontrar. Mas vale a pena, sem dúvida. Nessa busca pelo resgate da história de Javé, a gente viaja junto pelo tradição oral do povoado - neste caso, no interior da Bahia, com o vocabulário e verve ricos dos nordestinos. Além do bom humor, é claro. O elenco é todo de atores do 'segundo time'. Entre aspas, claro, pois são todos atores fantásticos, mas sem a menor vocação pra galã. Portanto, você só vai encontrá-los na novela das oito de for em papel de jagunço, capitão-do-mato ou retirante. O José Dumont, que interpreta o Antonio Biá, está maravilhoso.

Sei dizer que é daqueles filmes que assistimos o tempo todo com um sorisso nos lábios. Não por ser uma comédia escrachada - tem momentos muito engraçados, sim - mas por seu tom matreiro, esperto, e pela simplicidade e fé dos moradores do povoado, cada qual com suas versões, crenças, jeitos e trejeitos. Muito bom.

Narradores-de-Jave Origem/Ano: Brasil/2003
Duração: 100 min
Direção: Eliane Caffé
Sinopse: Nada mudaria a rotina do pequeno vilarejo de Javé se não fosse o fato de cair sobre ele a ameaça repentina de sua extinção: Javé deverá desaparecer inundado pelas águas de uma grande hidrelétrica. Diante da infausta notícia, a comunidade decide ir em defesa de sua existência pondo em prática uma estratégia bastante inusitada e original: escrever um dossiê que documente o que consideram ser os "grandes" e "nobres" acontecimentos da história do povoado e assim justificar a sua preservação. Se até hoje ninguém preocupou-se em escrever a verdadeira história de Javé, tal tarefa deverá agora ser executada pelos próprios habitantes. Como a maioria dos moradores de Javé são bons contadores de histórias, mas mal sabem escrever o próprio nome, é necessário conseguir um escrivão à altura de tal empreendimento. É designado o nome de Antônio Biá, personagem anárquico, de caráter duvidoso, porém o único no povoado que sabe escrever fluentemente. Apesar de polêmico, ele terá a permissão de todos para ouvir e registrar os relatos mais importantes que formarão a trama histórica do vilarejo. Uma tarefa difícil porque nem sempre os habitantes concordam sobre qual, dentre todas as versões, deverá prevalecer na memória do povoado. Na construção deste dossiê, inicia-se um duelo poético entre os contadores que disputam com suas histórias - muitas vezes fantásticas e lendárias - o direito de permanecerem no patrimônio de Javé.