26 de mai. de 2009

Herói por acaso

A pedido, vou começar uma pequena série com filmes franceses, todos eles muito legais. E começamos com este “Herói por acaso”, um filme belíssimo, engraçado e emocionante.

O enredo trata do período de ocupação nazista na França, quando a população se dividia entre colaboracionistas ou não. Batignole, a bem da verdade, não era um nem outro, mas não queria saber de confusão. Até que seu genro, crítico de arte e colaboracionista, denuncia uma família de judeus que vive no apartamento acima do deles. Durante a prisão da família, o filho consegue se esconder e, junto com duas primas órfãs da guerra, acaba entrando na vida do salsicheiro Batignole. Incapaz de entregar as crianças aos nazistas, Monsieur Batignole embarca numa jornada insana para tirá-las do país e levá-las em segurança até a Suíça. E neste trajeto pela libertação das crianças, Batignole acaba libertando-se também da vida modorrenta e opressora que levava em casa, com a família.

O interessante é que, com grandes atuações, especialmente das crianças, e a graça inata de Gérard Junot (que também é o diretor) com aquele jeitão de pastel, o filme fica extremamente leve e divertido, apesar do tema ‘duro’. É bem verdade que segue um pouco a linha dos filmes do Roberto Begnini, como “A Vida é Bela”. Mas isso não chega a ser demérito nenhum, pelo contrário.

Vale o registro da bela fotografia do filme, com cenas fantásticas de Paris e do interior da França.

heroi_por_acaso_aff Título Original: Monsieur Batignole / On pouvait pas savoir
Origem/Ano: França/2002
Duração: 100 min
Direção: Gérard Jugnot
Sinopse: Paris, 1942. O país está ocupado pelos nazistas. O senhor Batignole é dono de uma salsicharia e, tendo lutado na primeira guerra, não quer mais saber de nada do que acontece na vida do país. Passivo, suporta as humilhações de sua arrogante esposa e o anti-semitismo do futuro genro, que já mora em sua casa. Quando o genro, colaboracionista e aproveitador, denuncia a família judia que mora no andar de baixo, o senhor Batignole nada faz. Mas a omissão lhe será jogada na cara por Simon, filho da família denunciada, que conseguiu se esconder dos nazistas. Protegê-lo será a chance de o senhor Batignole se redimir.

11 de mai. de 2009

Salvador

Quem gosta de filmes históricos, em especial sobre os períodos de ditadura militar em todo mundo – e eu gosto bastante, sabe que este é um gênero em que os brasileiros se especializaram. Saíram por aqui uma série de títulos bem interessantes, como “Batismo de Sangue”, “Zuzu Angel”, “Quase dois irmãos”, “O que é isso, companheiro?”, “Lamarca”, só pra citar alguns que me lembro de cabeça.

Em “Salvador”, a ditadura da vez é a espanhola, sob o comando do Generalíssimo Franco, e o filme conta a história de um jovem, Salvador, que não aceita as imposições do regime e resolve pegar em armas na luta por seus ideais.

Até aí, sem grandes novidades, o enredo é bem conhecido de todos nós. Militância, assaltos à banco, etc. Confesso que até esse ponto, fiquei um pouco entediado, achei um tanto arrastado.

Até o momento em que ele é preso e condenado à morte por um tribunal militar. A partir daí, acompanhar a agonia do condenado à espera da morte, a luta dos advogados em busca de um perdão, a situação da família, enfim, a trama toda vai nos envolvendo de maneira angustiante.

Só pra explicar melhor: na verdade, o filme começa com a sua prisão e, na captura, ao tentar fugir, rola um tiroteiro, em que Salvador é baleado e um policial é morto. A história passada vai sendo por ele, em conversas com o advogado na cadeia, até o momento da prisão, quando começa a parte angustiante.

Gostei muito de uma série de coisas, como o relacionamento que ele desenvolve com o policial dentro da cadeia – os diálogos entre eles são bem interessantes, a relação dele com o pai, enfim. Mas, repito, o que mais me impressionou foi a capacidade do filme, com a interpretação singela do ator, de nos envolver sentimentalmente. Coisa rara hoje em dia…

Trata-se de uma história real, e a família até hoje pede uma revisão do processo. Mais não conto. Por fim – e sei que isso vai soar completamente batido e anacrônico, mas fazer o que… – acho que sempre vale a pena conheceros melhor como era viver sob um regime ditatorial, só pra valorizarmos nossa pouca liberdade e não corrermos o risco de qualquer retrocesso.

salvador-2006-poster02 Título Original: Salvador
Duração: 134 minutos
Origem-Ano: Inglaterra – Espanha : 2006
Direção: Manuel Huerga
Roteiro: Lluís Arcarazo, baseado em livro de Francesco Escribano
Sinopse: A história real do militante, assaltante de bancos e anarquista Salvador Puig Antich (Daniel Brühl), integrante do grupo Movimiento Ibérico de Liberación, cuja execução em 1974, a última realizada na Espanha com o método do garrote, instalou uma polêmica que ajudou a decretar o fim da ditadura franquista e o retorno da democracia ao país.

Uma amizade sem fronteiras

Uma belíssima história de amizade entre um menino francês e um velho imigrante muçulmano na Paris dos anos 60, onde ambos se amparam mutuamente, trocam experiências e ensinamentos, suprem suas carências e crescem juntos. Basicamente é esse o enredo do filme, com uma grande atuação de Omar Sharif.

O filme tem um ritmo leve, com momentos divertidos e outros comoventes. Trata-se de um menino judeu, Momo, entrando na adolescência e vivendo uma fase de descobertas, criado pelo pai completamente relapso, traumatizado por ter sido abandonado pela ex-esposa. Momo conhece Ibrahim, este imigrante argelino, que tem um pequeno armazém em frente à sua casa – o menino vai lá comprar produtos e, por vezes, roubá-los, deixa para o início da relação entre eles…

Com uma atitude diversa da que o menino está habituado, esta relação cresce e Ibrahim passa a assumir, de certa forma, o papel que caberia ao pai na educação do garoto. Essa relação se solidifica, quando o pai do menino também o abandona e ele passa a viver sozinho, vendendo os objetos domésticos – e gastando a grana com as putas da região.

O grande lance do filme está, primeiro, na maneira em que se desenvolve essa relação de afeto entre os dois e nos pequenos detalhes dessa construção, e, depois, na forma como, apesar das diferenças culturais entre eles, seus ensimanentos, baseados no Corão, são absorvidos de maneira suave, sem maiores choques, pelo adolescente ocidental.

Ibrahim repete suas máximas, filosias e regras, e diz ao menino que é isto que está escrito em seu Corão. E no final a gente entende melhor como essa ligação entre eles supera tão facilmente as distâncias culturais. Só pra dar uma pitadinha de beleza: o nome original do filme, em francês, é “Monsieur Ibrahim et les Fleurs du Coran”. Diz muito mais do que “Uma amizade sem fronteiras”.

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Título Original: Monsieur Ibrahim et les Fleurs du Coran
Duração: 95 minutos
Origem-Ano: França - 2003
Direção: François Dupeyron
Roteiro: François Dupeyron, baseado em livro de Eric-Emmanuel Schmitt
Sinopse: Durante o início da década de 60, Paris, como a maior parte da Europa, era uma explosão de vida. Conforme o velho dava lugar ao novo, tudo estava fluindo na cidade, cheia de energia que prometia mudanças culturais e sociaia. Com esse cenário, em uma vizinhança de trabalhadores, dois personagens distintos - um jovem judeu e um mulçumano idoso - começam uma amizade. Quando encontramos Momo (Pierre Boulanger) ele é um orfão de onze anos embora viva com seu pai, um homem lentamente se deteriorando em uma depressão. Seus únicos amigos são as prostitutas que o tratam com afeição genuína. Momo faz suas compras em uma loja da vizinhança, um lugar escuro e lotado administrado por Ibrahim (Omar Sharif), um homem exótico que vê e sabe mais do que deixa transparecer. Depois que Momo é abandonado por seu pai, Ibrahim se torna o único adulto na vida de Momo. Juntos começam uma jornada que irá mudar suas vidas para sempre.